João Pina-Cabral é Investigador Coordenador em Antropologia Social no Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa e Professor Emérito na Escola de Antropologia, Geografia e Ambiente da Universidade de Kent (RU). Foi co-fundador e presidente da Associação Portuguesa de Antropologia e da Associação Europeia de Antropólogos Sociais. Realizou extenso trabalho de terreno em Portugal, Macau, Moçambique e Bahia. Principais obras: Filhos de Adão, Filhas de Eva (trad. port., D. Quixote 1989), Os contextos da antropologia (Difel 1991), Aromas de Urze de Lama (2ª ed, ICS 2008), Em Terra de Tufões (Instituto Cultural de Macau 1993), O homem na família (ICS 2003), Between China and Europe (Berg 2002), Gente Livre (Terceiro Nome, S. Paulo 2013). A sua obra mais recente (World: An anthropological examination—Chicago, HAU books, 2017) reflete sobre as condições de possibilidade do gesto etnográfico e recebeu o Prémio Malinowski. Editou com R. Feijó e H. Martins A morte no Portugal contemporâneo (Querco 1984), com J.K. Campbell Europe Observed (Macmilan 1992), com A.P. Lima Elites (Berg 2000), com Fernando Gil O processo da crença (Gradiva 2004), com Clara Carvalho A persistência da história (ICS 2004), com S.M. Viegas Nomes (Almedina 2007), com F. Pine On the margins of religion (Berghahn 2008), com C. Toren The challenge of epistemology (2011), e com G. Bowman After Society (Berghahn 2020).
Interesses de investigação:
Pessoa, parentesco e família; religião, simbolismo e poder; etnicidade e condição pós-colonial; teoria etnográfica.
Academia.edu: https://kent.academia.edu/JoaoPinaCabral
Research Gate: https://www.researchgate.net/profile/Joao_Pina-Cabral/research
University of Kent:
https://tinyurl.com/2p85mrwu
ORCID:
http://orcid.org/0000-0002-7180-4407?lang=en
Email preferencial:
pina.cabral@ics.ul.pt
A antropologia possível
João Pina-Cabral
Instituto de Ciências Sociais
Universidade de Lisboa
Conferência inaugural APA-Évora Setembro 2022
Qual a antropologia que podemos querer vir a fazer? Esta palestra tenta dar conta da condição atual que confronta a antropologia como disciplina científica na conjuntura que estamos a viver hoje em Portugal, na Europa, no globo. Confrontados com o saber de que os piores excessos da história se repetirão e alertados mais uma vez para os rebombos de um possível apocalipse civilizacional, os antropólogos veem-se movidos a reconhecer na prática analítica o seu inevitável etnocentrismo—o fato de fazermos parte integrante da história em movimento. Ao mesmo tempo, na prática comparativista, somos levados a exercer mais e mais criticamente a vocação desetnocentrificante que resulta da crescente possibilidade de abarcar o pensamento sobre a condição humana dos melhores pensadores de todas as tradições analíticas de todo o mundo e de todos os tempos. Para isso, prevemos que só há uma saída possível para entender adequadamente o processo de diversificação que é a condição constituinte da socialidade e da vida: a prática da uma visão analítica que subordine a essência à existência; que subordine a semiótica à prática; que abrace a nossa condição humana no estudo da condição humana. Em suma, a antropologia possível será inevitavelmente, de um ponto de vista epistemológico, não-Ocidentalista e, de um ponto de vista metodológico, não-Orientalista. Tal implica uma prática etnográfica mais esforçadamente intensiva, que abrace de frente a sua condição como uma disciplina empírica de cariz científico. Na década que aí vem, a condição para a sobrevivência da antropologia, é saber ser surdo ao Canto da Sirene do virtualismo e da mediatização que a universalização da comunicação online tornaram lugares-comuns tão apetecíveis.
Partilhar