
Matança de porco, Seixas – Vinhais 1976 – Brian O’Neill à direita
Brian Juan O´Neill
Instituto Universitário de Lisboa – ISCTE-IUL
Investigador Sénior do CRIA (Centro em Rede de Investigação em Antropologia)
Co-fundador do CEAS (Centro de Estudos de Antropologia Social) em 1986
Professor Catedrático Jubilado, Departamento de Antropologia
Brian Juan O’Neill é antropólogo com licenciatura e mestrado em Literatura, formado em Columbia, Essex e a London School of Economics, tendo migrado a Portugal em 1982. Colaborando com a revista Critique of Anthropology nos seus primeiros anos, um espírito crítico marcado tem desde sempre impregnado a sua investigação, ao longo de três períodos de trabalho de campo: contos populares na Espanha (Galicia 1973/1975), etnografia do Mediterrâneo em Portugal (Trás-os-Montes 1976-78) e comunidades crioulas com legados portugueses no Sudeste Asiático (Malaysia 1994-2009). As suas publicações principais incluem: Proprietários, Lavradores, e Jornaleiras: Desigualdade Social numa Aldeia Transmontana 1870-1978 Dom Quixote 1984 (Social Inequality in a Portuguese Hamlet Cambridge University Press 2009 online [1987]), Lugares de Aqui (org. com Joaquim Pais de Brito) Etnográfica Press 2020 online [1991], e Antropologia Social – Sociedades Complexas Universidade Aberta 2006.
A sua pesquisa posterior focou histórias de vida biográficas, e a categoria da Eurásia dentro da área disciplinar da ‘história global’. Os seus trabalhos recentes descontroem a noção dúbia de que o chamado bairro português de Malaca seja de facto mesmo ‘português’, propondo que antes seja uma relíquia fantasmagórica projetada atrás no tempo durante as décadas finais do Estado Novo. Quem visitar este bairro euro-asiático poderá inalar algo da antiquada atmosfera kitsch que ainda o permeia hoje, duas décadas após o término retardado do terceiro império português em 1999.

Caianca preparations for the festa include the resident anthropologist, Denise, participating
Denise Lawrence-Zúñiga
Professora Emérita
Departamento de Arquitetura e Lyle Center for Regenerative Studies
California State Polytechnic University
Pomona, CA
Co-fundadora da rede Space and Place Network, AAA
Denise Lawrence-Zúñiga, doutorada pela Universidade da Califórnia Riverside em 1979, é antropóloga sociocultural cujo ensino em arquitetura tem focado o estudo dos seres humanos e as suas relações com os meios ambientes naturais e construídos. A sua pesquisa foca a arquitetura vernacular e contemporânea, a preservação histórica e o consumo doméstico de recursos. Efetuou investigação no Sul rural de Portugal, aprofundando as relações que as pessoas estabelecem com os seus meios ambientes domésticos a paisagens naturais através de relações mutuamente fortalecidas. Construindo uma casa nova ou remodelando uma casa velha encarna o imaginário de uma nova identidade e estilo de vida. No sul da Califórnia, nas comunidades de Pasadena, Alhambra, Monrovia, Ontario e Riverside investigou de modo semelhante as decisões dos residentes em desenhar as remodelações das suas casas antigas, e como as suas escolhas chegam a fazer parte da construção das suas identidades. Publica em antropologia, tendo coorganizado House Life: Space, Place and Family in Europe (Berg 1999) e The Anthropology of Space and Place (Blackwell 2003). É também autora de Protecting Suburban America Gentrification, Advocacy and the Historic Imaginary (Bloomsbury 2016).
Reflexões em torno de 'Sul/Norte' em Portugal
Brian O’Neill
e Denise Lawrence-Zúñiga
Resumo:
Neste dueto propomos orquestrar algumas reminiscências musicais sobre a atmosfera e as vicissitudes que caracterizaram os nossos trabalhos de terreno antropológicos no Sul e Norte de Portugal em meados dos anos 70. Evitando uma abordagem globalista ‘Norte/Sul’ seguidora de uma direção decrescente de tipo imperialista sugestiva da Reconquista, começamos no Sul rumo ao Norte. As nossas reflexões sinfónicas avançam em quatro andamentos. A primeira melodia pergunta: PORQUÊ PORTUGAL? As paisagens lusitanas naquela década afiguravam-se como profundamente misteriosas, uma incógnita ignorada por estrangeiros, com as exceções de Callier-Boisvert, Riegelhaupt e Willems. E – perdoem o termo – o país parecia exótico. Até a própria língua soava romântica. Quer baseadas em latifúndios, quer em minifúndios, as duas extremidades do país suscitavam atenção. Uma segunda melodia toca com outro ritmo: QUANDO CHEGÁMOS? A Revolução dos Cravos de 1974 forneceu outra razão ainda mais intensa para a nossa escolha de Portugal como localidade de trabalho de campo. Como se podia situar o cisma do 25 de Abril na jovem antropologia anglo-americano-francesa do chamado ‘Mediterrâneo’? Será que nos influenciou também o ano de 1968, com os seus protestos estudantis em Berkeley, Columbia e Paris? Em 1975 e 1976 respetivamente, Denise e Brian reuniram com Jorge Gaspar e Benjamim Pereira, para mergulharem em mapas. Tiveram um segundo mergulho então no Alentejo e Trás-os-Montes. A terceira melodia toca num registo regional: SUL/NORTE. Leituras preliminares incluíam Jorge Dias, Silva Picão, Veiga de Oliveira e Cutileiro (cuja monografia de 1971 inspirou ambos). Juntámos à orquestra de folclore, cultura material, festividades e costumes? As nossas etnografias tomaram outro rumo, nomeadamente ao mundo das casas (Denise), dos bastardos (Brian) e das matanças dos porcos (Denise e Brian). E ainda: questionámo-nos como a Revolução estava a influenciar de forma oposta os ‘nossos’ terrenos. Como começar a desembaraçar as diferenças entre o sul e o norte de Portugal? Uma quarta melodia: PESQUISAS E EXPERIÊNCIAS POSTERIORES. Quais as melodias que se seguiram às permanências no terreno? Como se incorporou Portugal dentro da antropologia norte-americana? O que era, de facto, a ‘Antropologia Europeia’ nos anos 80 e 90? Que elos se estabeleceram com a nossa investigação posterior, sobre Espanha e Califórnia, bem como sobre Malaca e as ruínas crioulas do terceiro império português? Porque havia tanta recetividade aos nossos contributos, desde os anos 70 até hoje? Terá tido razão Edward Bruner? Haverá necessidade em separar – de modo quase bipolar – as inclinações objetivas-cum-científicas da/do antropóloga/o dos seus sentimentos subjetivos-cum-experienciais? Esperamos que alguns pensamentos reflexivos semelhantes sobre conexões internacionais continuadas possam ser estimulados por estas melodias melífluas em batida allegretto.

Figura 1 View of Seixas 19

Figura 3- Castle-and-Church-–-the-Classic-Profile-of-the-Alentejan-Town
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