Ema Pires Departamento de Sociologia, Universidade de Évora, Portugal; Universidade Federal de Goiás, Brasil
Francisco Curate Centro de Investigação em Antropologia e Saúde, Departamento de Ciências da Vida, Universidade de Coimbra, Portugal. É licenciado em Antropologia, mestre em Evolução Humana e doutorado em Antropologia Biológica, investigador no Centro de Investigação em Antropologia e Saúde (CIAS) do Departamento de Ciências da Vida da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra, e professor convidado no Instituto Politécnico de Tomar. É autor de diversos trabalhos nas áreas da bioarqueologia, paleopatologia e antropologia forense, e tem investigado a saúde esquelética, a perda de massa óssea e as lesões traumáticas em amostras arqueológicas e coleções osteológicas de referência. A variabilidade esquelética humana como tópico de investigação é um derivado natural de seu interesse pela saúde óssea, e inclui o desenvolvimento de métodos para a estimativa do sexo biológico e idade à morte através de experiências inovadoras que tiram proveito da potencialidade tecnológica dos aplicativos online, machine-learning e imagiologia médica.
Do que falamos quando falamos de antropologia? Encontros com a alteridade em nós
Ema Pires
e Francisco Curate
Resumo:
Uma certa personagem camiliana afirma, não sem alguma aspereza, que «o “conhece-te” do filósofo antigo é uma tolice», e conclui o seu parecer interrogando: «Quem é que se conhece?». É a partir desta questão que propomos este diálogo entre a antropologia social e a antropologia biológica, uma espécie de desconfinamento epistemológico que, longe de ser um exercício científico, arriscará promover o conhecimento do Outro em nós. Como é lógico supor, este ensaio em modo de conversa não representa todas as pessoas que fazem antropologia (biológica, social, cultural, o que quiserem), mas apenas uma antropóloga (social) e um antropólogo (biológico). É, pois, um debate pessoal, porventura não generalizável além das nossas próprias perspetivas e experiências. Ainda assim, o desconhecimento mútuo é um erro que se prolonga há demasiado tempo, e de ora em diante o nosso modo de errar poderá e deverá ser outro. E se é inegável que cada província do saber antropológico possui os seus próprios terrenos, mais ou menos delimitados, que isso não lhe limite o acesso ao baldio, ao tentador campo comum ético, teórico e metodológico. Todas as questões humanas se encontram emaranhadas umas nas outras numa treliça indecifrável por clausuras disciplinares obsoletas. A única possibilidade que resta é a recuperação do hibridismo possível, de uma antropologia, polifónica e fragmentada, cujo corpo possui um perfil indefinido. A antropologia pode contradizer-se e, tal como Whitman, conter multidões.
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